Sobre os Trilhos da Via Férrea o Consumo da Morte
Há alguns meses, em uma
manhã ensolarada, deparei-me com uma multidão de viciados com idades
aparentemente entre 12 a 30 anos, ali, logo ali, na região do bairro do Jacaré,
onde a população desprezada pelas autoridades, que fecham seus olhos para não
serem agredidos com a imagem de um grupo da sociedade que cresce
desenfreadamente no vício. Entre barracos e casebres. Um grupo que fora
estimulado a se fechar, pelo abandono, pela desilusão, pela falta de empregos,
pela falta de oportunidades diversas e pelos descasos das autoridades
governamentais. Eles ficavam parados ali debaixo dos trilhos do metrô, aglomerados
amontoados e lançados à própria sorte entre seringas, maconha, álcool e pedras
de crack.
Hoje, não estão mais
lá, mas não graças à sociedade ou as autoridades que se comoveram com a
degradação humana. Eles apenas mudaram de lugar, resolveram se esconder e se organizar
formando uma pequena comunidade sobre os trilhos da via férrea, onde só as
pessoas que fazem o trajeto Central do Brasil viam, de ambos os lados, e poderiam
se deparar com tamanha Anomia Social e a consciência coletiva de um só grupo
que se destrói gradativamente, e cresce de uma maneira absurda.
Eu passei por lá, fui
de trem, e chorei de vergonha ao ver homens, mulheres e crianças, sujos
imundos, mendigos famintos viciados. Aproximadamente umas trezentas pessoas que
foram o que os meus olhos conseguiram ver; pessoas deitadas, sentadas, com os
corpos à vista andando de um lado para o outro sem direção e perdidas nas suas ilusões
sobre os trilhos. Alguns já mutilados, sem suas partes e com feridas ainda por
cicatrizar.
Ali já começa a se
formar uma nova comunidade, a comunidade dos que não conseguem ver luz no fim
do túnel, a comunidade daqueles que por algum motivo se entregaram à própria
destruição de suas vidas. Pessoas que perderam seus interesses e suas
esperanças. Pessoas que perderam suas famílias ou foram abandonadas por elas. Pessoas
que foram excluídas pela sociedade.
A Sociedade está
dividida em uma luta de classes.
Os que têm muito e
querem cada vez mais.
Os que têm pouco, mas dividem
na medida do possível como ato de solidariedade.
E os que nada têm.
Desta forma eu divido a
sociedade em apenas duas partes.
Aquela que olha para o
seu próprio umbigo, sua própria mesa, seu próprio bem estar, seu próprio
emprego, sua própria alegria, sua própria crença, sua própria vontade e
despreza os outros. Enaltecendo a soberba, a ganancia e que partem para a
humilhação como ato de misericórdia dando explicitamente aos outros a forma
mais fácil para sucumbir.
Eles são protegidos
pelos seus arranha-céus, suas contas bancárias e suas câmeras de segurança, correm
velozmente com seus carrões importados e se cobrem do frio com seus casacos de visom.
Quando se encontram ameaçados se unem em bandos para aniquilarem aqueles que os
ameaçam, e em suas mãos determinam a miséria ou a conquista de uma determinada
sociedade e a sua proliferação, dando a sociedade sem cultura o salário da
desigualdade social.
Mudança Social.
Muda Brasil e agregue
aqueles que um dia foram desagregados pela própria sociedade dando origem aos
chamados grupos antissociais.
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