domingo, 6 de novembro de 2011

Sobre os Trilhos da Via Férrea o Consumo da Morte




Sobre os Trilhos da Via Férrea o Consumo da Morte
Há alguns meses, em uma manhã ensolarada, deparei-me com uma multidão de viciados com idades aparentemente entre 12 a 30 anos, ali, logo ali, na região do bairro do Jacaré, onde a população desprezada pelas autoridades, que fecham seus olhos para não serem agredidos com a imagem de um grupo da sociedade que cresce desenfreadamente no vício. Entre barracos e casebres. Um grupo que fora estimulado a se fechar, pelo abandono, pela desilusão, pela falta de empregos, pela falta de oportunidades diversas e pelos descasos das autoridades governamentais. Eles ficavam parados ali debaixo dos trilhos do metrô, aglomerados amontoados e lançados à própria sorte entre seringas, maconha, álcool e pedras de crack.

Hoje, não estão mais lá, mas não graças à sociedade ou as autoridades que se comoveram com a degradação humana. Eles apenas mudaram de lugar, resolveram se esconder e se organizar formando uma pequena comunidade sobre os trilhos da via férrea, onde só as pessoas que fazem o trajeto Central do Brasil viam, de ambos os lados, e poderiam se deparar com tamanha Anomia Social e a consciência coletiva de um só grupo que se destrói gradativamente, e cresce de uma maneira absurda.

Eu passei por lá, fui de trem, e chorei de vergonha ao ver homens, mulheres e crianças, sujos imundos, mendigos famintos viciados. Aproximadamente umas trezentas pessoas que foram o que os meus olhos conseguiram ver; pessoas deitadas, sentadas, com os corpos à vista andando de um lado para o outro sem direção e perdidas nas suas ilusões sobre os trilhos. Alguns já mutilados, sem suas partes e com feridas ainda por cicatrizar.

Ali já começa a se formar uma nova comunidade, a comunidade dos que não conseguem ver luz no fim do túnel, a comunidade daqueles que por algum motivo se entregaram à própria destruição de suas vidas. Pessoas que perderam seus interesses e suas esperanças. Pessoas que perderam suas famílias ou foram abandonadas por elas. Pessoas que foram excluídas pela sociedade.

A Sociedade está dividida em uma luta de classes.

Os que têm muito e querem cada vez mais.

Os que têm pouco, mas dividem na medida do possível como ato de solidariedade.

E os que nada têm.

Desta forma eu divido a sociedade em apenas duas partes.

Aquela que olha para o seu próprio umbigo, sua própria mesa, seu próprio bem estar, seu próprio emprego, sua própria alegria, sua própria crença, sua própria vontade e despreza os outros. Enaltecendo a soberba, a ganancia e que partem para a humilhação como ato de misericórdia dando explicitamente aos outros a forma mais fácil para sucumbir.

Eles são protegidos pelos seus arranha-céus, suas contas bancárias e suas câmeras de segurança, correm velozmente com seus carrões importados e se cobrem do frio com seus casacos de visom. Quando se encontram ameaçados se unem em bandos para aniquilarem aqueles que os ameaçam, e em suas mãos determinam a miséria ou a conquista de uma determinada sociedade e a sua proliferação, dando a sociedade sem cultura o salário da desigualdade social.

Mudança Social.

Muda Brasil e agregue aqueles que um dia foram desagregados pela própria sociedade dando origem aos chamados grupos antissociais.

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